A AMÉRICA LATINA E SUA RELAÇÃO COM A INOVAÇÃO PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO
Com a globalização e a inter-relação que a mesma proporciona, os países estão constantemente se comunicando e mantendo relações comerciais. O mundo se transformou em uma economia do conhecimento, onde o grau e a velocidade com que uma sociedade absorve novas tecnologias obtêm e compartilham informações em escala global, cria e dissemina novos conhecimentos, determina a sua capacidade para operar e competir.
Para se manter nesse ambiente e não sofrer danos, os países precisam se adequar as exigências do ambiente competitivo, melhorando a forma como empreendem e utilizando a inovação como um recurso-chave para o desenvolvimento de suas economias. A América Latina, região que engloba vários países, incluindo o Brasil, ao longo dos anos teve crescimentos e desacelerações econômicas, essas últimas prejudiciais e que podem afetar ganhos que a população latino-americana já adquiriu na área social.
De acordo com os estudos do Grupo de Pesquisa Gestão e Estratégia em Negócios Internacionais – GENINT / UNESC (Prof. Me. Julio Cesar Zilli e Millena Biff), as empresas da América Latina introduzem novos produtos com menos frequência que as empresas de economias parecidas, e também o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e os registros de patentes estão abaixo dos níveis de referência (LEDERMAN et al, 2014).
A porcentagem de empresas que se envolvem em atividades inovadoras, por meio da inserção de novos produtos foi mais baixa em países latino-americanos que em outros países durante o período de 2006 a 2010, e a Argentina foi o país latino-americano que apresentou maior percentual, com cerca de 70% das empresas introduzindo novos produtos no mercado.
Denota-se uma grande disparidade na região no quesito de introduzir novos produtos, sendo o Chile o país onde os empreendedores mais indicam que seus produtos são novos, contrastando com o Brasil, país onde há menos produtos novos introduzidos ao longo dos anos. Isso pode indicar também que há poucos concorrentes para as empresas que inserem novos produtos no Chile e mais concorrentes conforme os percentuais vão diminuindo. Desta forma, percebe-se que os pesquisadores em economias mais desenvolvidas são, em sua maioria, da área de engenharia e tecnologia, contrastando com os países latino-americanos, que investem mais em ciências sociais e ciências agrícolas, esta última quase não aparecendo nos países com economias desenvolvidas.
INOVAÇÃO E O SETOR PRIVADO
A proporção dos pesquisadores que se dedicam a engenharia e tecnologia oscila entre 10% e 30% na América Latina, enquanto que países como Japão e Coreia do Sul registram taxas por volta de 60%. Lederman et al (2014) ainda afirmam que as empresas latino-americanas investem pouco em P&D e a atividade de registro de patentes está abaixo dos níveis de referência. Enquanto que a participação dos gastos com P&D no PIB cresceu nas economias mais avançadas entre 1998 e 2008, nos países da América Latina as melhoras foram modestas.
Ao contrário de economias desenvolvidas, onde a maioria dos países continua a aumentar esse investimento, na América Latina os esforços para melhorar o investimento em P&D estão concentrados em poucos países. Em 2007, 60% das despesas em P&D da região foram do Brasil. O BID (2011) ainda afirma que outra característica da América Latina é a falta de participação do setor privado na inovação. O financiamento de P&D continua altamente concentrado em instituições públicas (agências governamentais e universidades) e constitui 59% do investimento total, enquanto na OCDE o número é de 35%. Assim, percebe-se que nenhum país latino-americano exposto tem financiamento de mais de 50% advindo de empresas, enquanto que nos outros países, em sua maioria, predominam esse tipo de financiamento.
Dessa forma, fica visível como é importante às empresas se conscientizarem acerca da importância do investimento em P&D para a sua competitividade. A região ainda é muito dependente de outras fontes para investir em P&D, necessitando ser mais independente.
REGISTRO DE PATENTES E CARACTERÍSTICA EXPORTADORA
A América Latina é muito empreendedora, mas se esses empreendedores não buscarem formas de se fortalecer e se diferenciar, não poderão competir em mercados internacionais e, possivelmente, suas empresas não durarão muito tempo no mercado. Sobre os registros de patentes, também se faz necessário analisá-los para que se tenha entendimento de como está a criação de novos produtos e tecnologias na América Latina.
Não há nenhum país na América Latina que o número de patentes se aproxima do nível de países de alta renda; além disso, a maioria dos países latino-americanos registraram menos patentes que países com renda similar. O Brasil, por exemplo, registrou apenas cinco patentes por milhão de pessoas entre 2006 e 2010, metade do valor per capita da China (10) e pouco menos de um quarto do nível per capita da Bulgária (22) (LEDERMAN et al, 2014).
Pode-se dizer que o acesso a novos mercados por meio do comércio também é um dos sintomas do empreendedorismo transformador. Em mercados de exportação prosperam apenas as empresas com o melhor desempenho, tanto é que a maioria das empresas que entram nos mercados de exportação não sobrevive mais de um ano (LEDERMAN et al, 2014).
Dessa forma, fica perceptível que a maioria dos países latino-americanos exporta menos tecnologias que outros países. Apesar da Costa Rica ter uma porcentagem de 30% de exportação desses produtos no ano de 2008, em 1998 ela exportou quase 45%, o que indica que suas exportações de tecnologia decaíram. No geral, a América Latina exportou menos de 15% durante os dois anos analisados, enquanto que países como a China e a Irlanda e os participantes da OCDE exportaram mais de 15%.
Assim, a América Latina é uma grande exportadora de bens primários, não se sobressaindo nas exportações de bens manufaturados, principalmente de alta tecnologia. Percebe-se que, quando os negócios são novos ou estão em recente desenvolvimento, menos de 20% dos clientes da região são internacionais.
O Brasil foi o país que, durante o período exposto, teve percentuais mais baixos, chegando a praticamente 0% em 2009 e 2010. Os percentuais da América Latina, com exceção dos abaixo de 5%, segundo os dados da pesquisa GEM (2015), podem ser considerados dentro do normal, se comparados com países como Alemanha, Estados Unidos e Japão.
JULIO CESAR ZILLI – Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Organizador do Ebook Perspectivas Contemporâneas em Administração e Comércio Exterior. Coordenador e Editor da Revista que comporta os artigos do Congresso Sul Catarinense de Administração e Comércio Exterior e do Programa SICAD (Simulado Integrado de Conhecimentos de Administração). Na gestão empresarial do ramo cerâmico e agroindustrial, profissional com experiência em todas as áreas relacionadas ao comércio com destaque para os mercados da Europa, Ásia e África.
REFERÊNCIAS
BID. Banco Interamericano de Desenvolvimento. La Necesidad de Innovar: El camino hacia el progreso de América Latina y el Caribe. 2011. Disponível em: <
http://craig.com.ar/biblioteca/La%20necesidad%20de%20Innovar.%20Camino%20hacia%20el%20Progreso%20-%20BID.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2018.
GEM. Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil. 2004. Disponível em: <
http://www.dce.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/1EC939C7F8E5D50503256FE200487D4A/$File/NT000A6806.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2018.
LEDERMAN, D.; MESSINA, J; PIENKNAGURA, S; RIGOLINI, J. Latin American Entrepreneurs: Many Firms but Little Innovation. Washington: World Bank, 2014. Disponível em: <http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/document/LAC/LatinAmericanEntrepreneurs.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018.