A importância da aclimatação cultural na internacionalização de empresas
Por: Renato Barata Gomes, diretor da UNQ Import Export – renato.barata@unq.com.br .
Durante minha carreira profissional, tive a oportunidade de trabalhar seis anos por uma multinacional alemã em quatro países: Alemanha, México, Estados Unidos e Brasil. Neste período, participei do processo de abertura de uma filial no México. Neste processo de decisão, além dos aspectos de incentivos fiscais, posição geográfica e potencial de mercado, um dos pilares importantes no processo de escolha da localização da filial foi a condição de vida que o país dava aos executivos e profissionais estrangeiros que seriam expatriados para atuar na alta administração e em áreas estratégicas da empresa. Facilidade de se introduzir na cultura local, cordialidade do povo, infraestrutura em educação bilíngue, acesso a saúde de qualidade, conforto residencial e custo de vida são temas que influenciam no nível de satisfação que um profissional tem ao fixar residência no exterior.
Pesquisa aponta Brasil nas últimas posições em ranking de satisfação de expatriados
A Inter Nations realiza periodicamente uma pesquisa chamada Expat Insider. Este estudo analisa o mundo através dos olhos de profissionais e executivos expatriados. O objetivo é gerar um indicador que identifique quais são os melhores países para estrangeiros trabalharem. A pesquisa detalha as experiências diárias de expatriados em mais de 60 países. Na edição de 2016, mais de 14.000 pessoas foram entrevistadas representando 174 nacionalidades e 191 países ou territórios comentaram sobre morar ou trabalhar no exterior. Foram analisados 67 países e o Brasil ficou ranqueado na 64ª posição.
Os aspectos negativos do Brasil citados na pesquisa
Dentre os aspectos negativos na pesquisa, o primeiro é o custo de vida comparado ao salário. Muitos expatriados, principalmente de países desenvolvidos, quando aceitam uma proposta de emprego no Brasil, não conhecem a realidade dos serviços públicos no país e se assustam quando percebem que muitos destes serviços gratuitos em seus países de origem, tais como educação e saúde, não funcionam no Brasil. Assim, precisam contratar serviços particulares para suprir esta carência o que pesa no orçamento familiar. Além disso, foram citados a insegurança política e a segurança. Muitos têm receio de que a insegurança política afete a economia. A corrupção institucionalizada acaba também criando um cenário de que não existe solução para os problemas do Brasil no curto prazo. Finalmente a falta segurança no país também foi um aspecto mencionado pelos entrevistados, e que de certa forma, tem impacto psicológico significativo nas famílias.
Os aspectos positivos do Brasil citados na pesquisa
Os principais aspectos positivos foram o clima agradável no Brasil e a amabilidade do povo brasileiro. Apesar de que muitos estrangeiros citarem que é muito difícil viver no Brasil sem dominar o português, a maior parte disse ser fácil fazer amigos no Brasil.
O maior ativo do Brasil é o seu povo
Apesar dos inúmeros problemas enfrentados no Brasil, o povo brasileiro é o seu principal ativo. É comum vermos estrangeiros que, apesar de tantos problemas, optam por continuar morando no Brasil devido aos relacionamentos afetivos e de amizade criados no país. Ainda assim, mais uma vez fica claro em uma pesquisa, que os serviços públicos no Brasil precisam melhorar e muito, tanto para brasileiros quanto para estrangeiros que aqui residem.
Texto originalmente publicado no jornal A Tribuna de 10 de maio de 2017.