AUTO-EXPATRIAÇÃO NO BRASIL: O CRESCENTE FENÔMENO DA FUGA DE CÉREBROS
Existem poucos brasileiros que não conhecem ou ouviram falar de ao menos uma pessoa que tenha deixado este país em busca de melhores oportunidades empregatícias, qualidade de vida, etc. De fato, este é um fenômeno que há décadas faz parte da realidade brasileira, motivado por inúmeros fatores como instabilidade política e econômica, falta de oportunidades, infelicidade ou até mesmo a busca por algo novo/diferente. No entanto, quando comparando distintos momentos da história não apenas brasileira, mas internacional, pode-se observar uma considerável diferença no perfil das pessoas que deixam seus países de origem para trás.
London calling!
Há 20, 30 anos a maior parte destas pessoas geralmente possuíam uma baixa qualificação profissional, direcionando suas oportunidades a empregos no exterior que exigiam pouco ou não exigiam uma formação especializada. Estas pessoas, segundo Araújo et al. (2012), são chamadas de imigrantes. Entre os principais países de destino deste grupo encontravam-se a Inglaterra e os Estados Unidos, países que devido a drásticas mudanças políticas no passado recente e dias atuais (BREXIT, governo Trump,), apontam uma grande “nuvem negra” perante esta situação. Atualmente, entretanto, pode-se observar o crescimento de um outro perfil de pessoas que decidem deixar o seu país: os auto-expatriados.
A “fuga de cérebros” brasileiros
Os auto-expatriados diferenciam-se dos imigrantes ao se considerar, por exemplo, suas supostas qualificações profissionais superiores (ARAÚJO, 2012). Aliado aos negativos aspectos políticos e econômicos do país, estes brasileiros muitas vezes buscam fugir do (cada vez pior) atual cenário empregatício no país, buscando melhores oportunidades no exterior, onde ou pretendem viver por apenas um determinado período (para adquirir conhecimento, experiência, entre outros) ou almejam estabelecer uma nova vida definitivamente.
Quem são estes profissionais?
Há diversos perfis de auto-expatriados, mas cabe aqui destacar um que não apenas vem aumentando crescentemente, como também inclui neste grupo a autora do presente artigo. Chamados por Suutari e Brewster (2001) de “jovens oportunistas”, este perfil de auto-expatriados possui representantes com idades inferiores a 30 anos, estão no início de suas carreiras e geralmente possuem a oportunidade de ir ao exterior por diversos meios, entre eles intercâmbios profissionais ou acadêmicos, estágios, entre outros. Estes veem a auto-expatriação às vezes como oportunidade para se destacar entre seus concorrentes quando retornarem ao Brasil, como também como uma melhor escolha para sua realização pessoal e profissional a longo prazo no destino escolhido (incluindo mais adequadas oportunidades educacionais ou empregatícias, qualidade de vida, novidade, interesse por outras culturas), etc.
Aliado a estes fatores, não se pode deixar de considerar o aumento das oportunidades para que este fenômeno venha crescendo. O maior número de pessoas (principalmente das novas gerações) que dominam diversos idiomas, a maior facilidade de se viajar para outros países, os incentivos e oportunidades oferecidos tanto pelo país de origem quanto pelo país de destino, entre outros.
Perspectivas futuras
Independentemente do perfil destas pessoas ou da razão pela qual decidem deixar (definitivamente ou não) o país, a realidade é que o Brasil está, sim, encarando uma “fuga de cérebros” cada vez mais intensa. Apesar de ainda não representativa a ponto de afetar a economia brasileira, há de se ficar atento a esta crescente tendência. Afinal, “a grama do vizinho está cada vez mais verde”.
REFERÊNCIAS
Araújo et al (2012): ARAUJO, B. F. V. B.; TEIXEIRA, M. L. M; CRUZ, P. B.; MALINI, E. Adaptação de expatriados organizacionais e voluntários: similaridades e diferenças no contexto brasileiro. Revista de Administração, v. 47, n. 4, p. 555-570, 2012.
SUUTARI, V.; BREWSTER, C. Making their own way: International experience through self-initiated foreign assignments. Journal of World Business, v. 35, n. 4, p. 417-436, 200
O autor
MONIQUE RAUPP
EmpreendedorismoAdministradora de empresas (ESAG-UDESC, Brasil); Mestre em Administração na área de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade (UFRGS, Brasil), onde estuda a relação de aspectos sócio-culturais no empreendedorismo internacional; Doutoranda em Administração pela UFPR, na área de Estratégia e Análise Organizacional; Experiência em co-lecionar disciplinas na UFRGS, entre elas Empreendedorismo & Inovação, Marketing e Negócios Internacionais na Administração Pública; Pesquisadora nas referidas áreas há mais de 5 anos, com períodos de estudos na França (École de Commerce, Clermont-Ferrand)e Estados Unidos (Harvard University, Boston), além da participação em diversos congressos científicos na área de Administração e Engenharia (Brasil, Colômbia, EUA e Inglaterra). Eterna incentivadora da expansão e aproximação de culturas por meio de negócios internacionais e em prol dos mesmos.