O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
Perto do século 21, com o impulso da globalização e a chegada do governo Fernando Henrique Cardoso, começaram a ocorrer novas decisões estratégicas, como a privatização das empresas estatais e a expansão internacional do mercado brasileiro, proporcionando um bom ambiente para iniciar o desenvolvimento de uma cultura empreendedora (SALLES, 2008). Foi em torno desse período, entre o final do século 20 e o início do século 21, com a crescente taxa de desemprego, que empresários e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) se ocuparam de introduzir a necessidade do desenvolvimento desta cultura empreendedora dentro do País (COAN, 2011). Desde então, no entanto, os incentivos governamentais vêm ajudando principalmente as grandes empresas, enquanto as de menor porte geralmente possuem uma maior dificuldade de se beneficiarem desses incentivos. Por exemplo, muitos desses empreendedores não sabem como desenvolver um plano de negócios, pré-requisito para poder solicitar vários incentivos ao empreendedorismo oferecidos pelo governo e instituições privadas. Em relação a estes e outros fatores limitantes à atividade empreendedora no Brasil, especialistas argumentam que a falta de educação e capacitação representam um grande problema para o desenvolvimento desta cultura empreendedora no País (Lima et al., 2015). Além disso, afirmam que existe uma falta de políticas públicas adequadas e que há muita papelada envolvida para iniciar um negócio, como pode-se observar na figura abaixo.
Mesmo com tamanhos fatores limitantes ao desenvolvimento de um perfil empreendedor entre os trabalhadores Brasileiros, mais da metade destes especialistas diz que o País possui, de fato, uma boa capacidade empreendedora, e há muita informação disponível à respeito do tema. Afinal, como utilizar estes aspectos positivos para, enfim, estabelecer uma cultura de empreendedorismo no mercado de trabalho Brasileiro?
Necessidade X Oportunidade: onde se encaixa o empreendedor Brasileiro?
De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, existem dois tipos de empreendedorismo: um relacionado à descoberta de oportunidades de negócios e outro que diz respeito à pura necessidade do empreendedor futuro (LIMA et al., 2014). O último representa a maioria dos empreendedores brasileiros, que geralmente estão envolvidos com negócios “básicos”, ou seja, visando gerar renda para os próprios empresários (LIMA et al., 2014). De acordo com o relatório, o impacto gerado por este tipo de empreendedorismo é limitado, pois não criará um número relevante de cargos e não desenvolverá novos produtos e serviços. Com a recente crise econômica que tem perturbado a população brasileira e a sua força de trabalho, o número de pessoas que busca no empreendedorismo uma alternativa ao cada vez mais caótico mercado de trabalho está aumentando crescentemente. De acordo com Lima et al. (2015), quando em 2002 apenas 20,9% da população brasileira estava envolvida com atividades empresariais, a taxa aumentou para 39,3% em 2015. No entanto, a população brasileira tornou-se mais insegura sobre a abertura de seus próprios negócios em 2015, quando a porcentagem daqueles que disseram não ter medo de empreender diminuiu de 61% em 2014 para 50% em 2015 (LIMA et al., 2015).
O que pode ser feito para mudar esta situação?
Uma atitude que poderia ser tomada, dadas as características do empreendedor brasileiro, seria o aumento do conhecimento e capacitação do empreendedor. Isto vem sido feito crescentemente por empresas como o SEBRAE, que oferecem apoio a pequenos e micro-empreendedores em todo este processo. Contudo, uma mudança que aos poucos está acontecendo, mas ainda em número insatisfatório e há pouco tempo, é o desenvolvimento deste perfil empreendedor na população Brasileira desde cedo. Como pode ser observado em países como os EUA e o Canadá, introduzir assuntos voltados à capacidade empreendedora desde a infância provavelmente fará com que isto tenha repercussão em suas futuras vidas profissionais. Trabalhar com criatividade, noção de dinheiro, de trabalho em si (como feiras de ciência, venda de limonadas, etc.) e outros aspectos inerentes a um profissional de sucesso poderia mudar o atual quadro do empreendedorismo Brasileiro e formar profissionais com perfis mais próximos ao que o mercado atualmente demanda. Não se pode deixar de lado o fato de que existem, sim, diversos outros fatores que influenciam estes profissionais, mas este pode ser um primeiro passo para uma grande mudança.
REFERÊNCIAS
Coan, M. 2011. “Educação para o empreendedorismo: implicações epistemológicas, políticas e práticas”. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.
Lima, B. R., Lima, E. P., Lazzarin, G. R. S., Salusse, M. A. Y., Macedo, M. M., Guimarães, M. L., Greco, S. M. S. S., and Souza, V. L. 2014. Empreendedorismo no Brasil: Relatório Executivo. Curitiba: IBQP.
Lima, B. R., Lima, E. P., Lazzarin, G. R. S., Salusse, M. A. Y., Macedo, M. M., Guimarães, M. L., Greco, S. M. S. S., and Souza, V. L. 2015. Empreendedorismo no Brasil: Relatório Executivo. Curitiba: IBQP.
Salles, A. B. T. 2008. Capitalismo no Brasil: o ambiente institucional para o empreendedorismo no início do Século XXI. PhD dissetation, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O autor
MONIQUE RAUPP
EmpreendedorismoAdministradora de empresas (ESAG-UDESC, Brasil); Mestre em Administração na área de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade (UFRGS, Brasil), onde estuda a relação de aspectos sócio-culturais no empreendedorismo internacional; Doutoranda em Administração pela UFPR, na área de Estratégia e Análise Organizacional; Experiência em co-lecionar disciplinas na UFRGS, entre elas Empreendedorismo & Inovação, Marketing e Negócios Internacionais na Administração Pública; Pesquisadora nas referidas áreas há mais de 5 anos, com períodos de estudos na França (École de Commerce, Clermont-Ferrand)e Estados Unidos (Harvard University, Boston), além da participação em diversos congressos científicos na área de Administração e Engenharia (Brasil, Colômbia, EUA e Inglaterra). Eterna incentivadora da expansão e aproximação de culturas por meio de negócios internacionais e em prol dos mesmos.