POR QUE OS PRODUTOS CHINESES SÃO MAIS BARATOS?
Certamente, todos já se questionaram um dia sobre os preços das mercadorias produzidas na China. Afinal, mesmo com o frete internacional e a tributação, muitas vezes encontramos custos melhores do que os preços pagos aqui no Brasil. E a primeira tendência é justificar os baixos custos em uma suposta mão de obra escrava no país asiático. A verdade é que, embora as condições de trabalho sejam conquistas recentes, o operário chinês ganha proporcionalmente parecido ao que operário brasileiro recebe. Ou seja, não existe a exploração de trabalho que tanto se fala. Para desmistificar o tema, aponto três aspectos importantes na apropriação de um melhor custo na China.
Disciplina de um Povo Trabalhador
Os chineses são muito disciplinados e trabalhadores. A história os formou assim. O trabalho forçado do socialismo de Mao e a pobreza generalizada moldaram os chineses para o trabalho. A abertura do mercado para o capitalismo mostrou aos chineses que o mesmo trabalho poderia gerar melhores condições de vida. Hoje, não é raro ver os chineses trabalhando 10, 12 ou 16 horas por dia. Não pela exploração de mão-de-obra, como argumentamos por aqui. Mas sim pelas possibilidades que eles enxergam a partir da dedicação às atividades profissionais. Eles se sentem bem trabalhando nesta intensidade. A disciplina da operação favorece a escala, o que reduz os custos de produção. A disciplina comercial faz dos chineses os melhores anfitriões e a insistência na venda, às vezes, inconveniente (quem já forneceu o número de whatsapp para um chinês sabe bem), produz resultados também favoráveis ao volume. É natural que essa disciplina de trabalho possibilite menores custos e, consequentemente, melhores preços.
Capacidade Logística e Tecnologia
Imagine o Brasil usufruindo de toda condição natural aquaviária, fazendo o transporte através de rios, lagos e mares e disponibilizando melhor infraestrutura nos portos para agilidade nas operações. Ou mesmo, utilizando melhor o transporte ferroviário, desafogando as rodovias e oferecendo opções ao empresário para reduzir o custo logístico. Essa é a realidade na China, o que permite uma eficiência logística muito mais adequada e, consequentemente, menores custos. Além disso, os investimentos em tecnologia e desenvolvimento são bastante intensos. A contrapartida é o aumento da capacidade de suprimento e melhores condições para redução de custos.
Moeda Desvalorizada
A questão cambial é também um importante fator de preço para o produto chinês. Hoje, o RENMINBI IUAN, moeda chinesa, vale quase metade do que o REAL. Ou seja, em termos gerais, se o custo de uma porta é $CNY100, quando transformado para a moeda brasileira ficaria em R$50. E esta é a mesma ideia para a conversão em dólar, a moeda usada habitualmente nas transações internacionais. Isso permite que proporcionalmente, através da paridade monetária, o custo do produto chinês seja menor também. É, por isso, que o Governo Chinês atua diretamente para manter o câmbio desvalorizado, estimulando a exportação. Claro que para importação, o custo fica mais alto. Entretanto, ao importar produtos primários e exportar produtos de maior valor agregado, o Governo mantém a balança comercial favorável ao país.
Resultados de uma oportunidade bem aproveitada
Indubitavelmente, a China possui diferentes condições para que os seus produtos sejam melhores em preços e, muitas vezes, em qualidade. O livre mercado permite que os produtos estejam acessíveis em qualquer lugar do mundo e o brasileiro pode facilmente comprar do outro lado do mundo. A culpa da perda de um negócio não será do comprador e, muito menos, do fornecedor estrangeiro. Ela é simplesmente da empresa que não conseguiu oferecer algo melhor. Por isso, é preciso buscar capacitação e encontrar nos bons exemplos, e nos especialistas, vantagens competitivas para garantir a melhor opção de compra.
Marcelo Raupp é empresário e consultor em negócios internacionais.
marcelo.raupp@unq.com.br
O autor
Marcelo Raupp
Negócios na ÁsiaSócio-diretor da UNQ Import Export. Administrador de empresas formado pela ESAG-UDESC e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais (FGV, Brasil). Especialista em International Business (Holmes Institute, Austrália). Experiência de mais de 15 anos na área de comércio exterior. Amplo conhecimento dos potenciais da indústria chinesa e da cultura do país asiático, com mais de dez visitas de longos períodos à Asia para a realização de negócios internacionais nos mais diversos setores. Consultor empresarial em negócios internacionais desde 2009 e grande incentivador das oportunidades internacionais no país.
Gostei muito do artigo, até agora foi o mais esclarecedor que já li.
Muito obrigado, Antonio Sérgio!
Obrigado Antonio Sérgio!