O FENÔMENO DAS BORN GLOBALS
Enquanto a maior parte das empresas do mundo que decidem se aventurar em mercados internacionais realizam esta atividade gradativamente – geralmente após já estarem bem estabelecidas no seu mercado nacional, existe um tipo de negócio que já “nasceu global”. Conforme o nome diz, as born globals são um tipo relativamente novo de empresas que desde cedo buscam a expansão de seus negócios para fora de suas fronteiras.
O fenômeno das born globals começou a ser discutido apenas a partir dos anos 80, impulsionado por fatores como a internet e outros processos de globalização (KNIGHT, MADSEN e SERVAIS, 2004), contudo, encontra-se cada vez mais presente no atual cenário econômico internacional. Mas afinal, considerando empresas que estão presentes em diferentes mercados ao redor do mundo, como é possível saber quando estas podem ser consideradas born globals?
Born globals x Empresas tradicionais
Segundo Rennie (1993), a empresa tradicional que busca a sua internacionalização mais tardiamente possui base doméstica e, quando inicia o seu processo de expansão internacional, o faz em estágios (seguindo, por exemplo, o Modelo Uppsala). Suas principais atividades já estão bem estabelecidas em território nacional, com um portfólio de produtos consistente, fortes capacitações e uma capacidade financeira sólida. Após adquirir estas características, este tipo de empresa decide expandir seus negócios para outros países, embora muitas vezes continuando com o seu principal foco no mercado nacional.
Por outro lado, as born globals podem ser descritas de acordo com as seguintes características (DIB, 2008):
Como estas PME’s prosperam em mercados internacionais?
Considerando que as born globals são geralmente caracterizadas por recursos tangíveis e financeiros limitados, uma pergunta pertinente é: como estas empresas alcançam sucesso em mercados internacionais? A internacionalização deste tipo de empresas implica num duplo desafio: além do já conhecido aspecto de consistir numa empresa estrangeira que está tentando se inserir num determinado mercado local, traz também as dificuldades inerentes de uma nova empresa (AUTIO, SAPIENZA e ARENIUS, 2005). Contudo, empresas que são elaboradas desde o seu início com o objetivo de priorizarem o mercado internacional também trazem consigo aspectos positivos. Por exemplo, conhecendo os seus mercados-alvo inicialmente facilita o desenvolvimento do negócio, a formulação de suas estratégias e de seus produtos visando a maior aceitação da empresa nos referidos países.
Rialp, Rialp e Knight (2005) também argumentam que as born globals frequentemente possuem um corpo executivo com relevante experiência e visão gerencial internacionais, uma ampla rede de contatos internacional e flexibilidade para se adaptarem a condições mercadológicas mutáveis, fatores que auxiliam o sucesso destas empresas. Além disso, quando se trata de levar produtos a consumidores estrangeiros, as born globals normalmente minimizam seus investimentos, por exemplo, utilizando facilitadores externos como distribuidores independentes localizados no exterior (CAVUSGIL and KNIGHT, 2009).
Importante personagem no mercado internacional
Independentemente de suas características e participação internacional, o fato é que as born globals vêm representando uma fatia cada vez maior do mercado internacional. Junto às crescentes taxas de internacionalização das empresas “tradicionais”, estas tendências demonstram como o mercado mundial está cada vez mais interconectado, seja pela busca por inovação, pela expansão de um atual modelo de negócios, pelo cenário econômico doméstico desfavorável ou pelo desejo de se tentar algo novo. O mundo está cada vez menor, enquanto muitas de suas empresas não querem parar de crescer.
REFERÊNCIAS
AUTIO, E.; SAPIENZA, H.; ARENIUS, P. International social capital, technology sharing, and foreign market learning in internationalizing entrepreneurial firms. In: KATZ, J. e SHEPHERD, D. (eds.) Advances in entrepreneurship, firm emergence and growth, v.8. Elsevier. P.9-42. 2005.
CAVUSGIL, S. T., and KNIGHT, G. Born global firms: A new international enterprise. New York, NY: Business Expert Press. 2009
DIB, L. A. Caracterizando o Processo de Internacionalização Born Global: Discussão sobre a Conceituação Empírica do Fenômeno e Hipóteses de Pesquisa. Xxxii Enanpad, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.1-16, set. 2008.
KNIGHT, G. Born Global Firms: Evolution of a Contemporary Phenomenon, in Shaoming Zou , Hui Xu , Linda Hui Shi (ed.) Entrepreneurship in International Marketing (Advances in International Marketing, Volume 25) Emerald Group Publishing Limited, pp.3 – 19. 2015.
KNIGHT, G.; MADSEN, T.; SERVAIS, P. An inquiry into born-global firms in Europe and the USA. International Marketing Review, 21/6, p.645-665. 2004.
RENNIE, M. Global Competitivness: Born global. McKinsey Quarterly, 4, p.45-52. 1993.
RIALP, A.; RIALP, J.; and KNIGHT, G. The phenomenon of early internationalizing companies: What do we know after a decade (1993–2003) of scientific inquiry? International Business Review, 14(2), 147–166. 200.
O autor
MONIQUE RAUPP
EmpreendedorismoAdministradora de empresas (ESAG-UDESC, Brasil); Mestre em Administração na área de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade (UFRGS, Brasil), onde estuda a relação de aspectos sócio-culturais no empreendedorismo internacional; Doutoranda em Administração pela UFPR, na área de Estratégia e Análise Organizacional; Experiência em co-lecionar disciplinas na UFRGS, entre elas Empreendedorismo & Inovação, Marketing e Negócios Internacionais na Administração Pública; Pesquisadora nas referidas áreas há mais de 5 anos, com períodos de estudos na França (École de Commerce, Clermont-Ferrand)e Estados Unidos (Harvard University, Boston), além da participação em diversos congressos científicos na área de Administração e Engenharia (Brasil, Colômbia, EUA e Inglaterra). Eterna incentivadora da expansão e aproximação de culturas por meio de negócios internacionais e em prol dos mesmos.