POR QUE O PARAGUAI SE TORNA CADA VEZ MAIS ATRAENTE PARA AS INDÚSTRIAS BRASILEIRAS?
Por: Beatriz de Luca
A crise econômica que o Brasil vem enfrentando tem levado empresários a olharem para o mercado internacional de outras formas. Não apenas vendendo para fora ou buscando insumos em diferentes partes do mundo, mas também levando parte do processo produtivo das indústrias para outros países, com destaque para o Paraguai. Mas, afinal, por que o país hermano tem atraído tanta atenção das empresas daqui?
O especialista em comércio exterior, Marcelo Raupp, que recentemente esteve em Assunción para prospectar negócios neste sentido, dá um panorama dos motivos. “As autoridades paraguaias têm desenvolvido ao longo dos anos benefícios tributários para empresas estrangeiras se instalarem na região. A ideia é abrir mão da arrecadação integral de impostos para, em contrapartida, garantir emprego e a capacidade de consumo da população”. 29Segundo Raupp, o país ainda depende muito do agronegócio e não tem uma indústria especializada. As empresas existentes são bastante limitadas e dependentes de tecnologia internacional. Com isso, o governo precisou buscar alternativas de trabalho para os cidadãos e a solução foi trazê-las de fora.
BENEFÍCIOS
Em geral, os benefícios são isenção ou redução de impostos para importação, produção e exportação. Além das vantagens tributárias, as relações trabalhistas são mais leves sem intervenções de sindicatos, e encargos mais baixos do que o Brasil, por exemplo. “As negociações são feitas diretamente entre empregado e empregador, dentro dos objetivos de cada um. Os encargos são divididos entre ambos, sendo 16% para o empregador e 9% para o empregado, bem abaixo na nossa realidade”, complementa o especialista.
Outro custo que atrai é o da energia. O Paraguai conta com uma disponibilidade de 56 milhões de MW por ano e utiliza apenas 15 milhões. O país tem a energia mais acessível do Mercosul, sendo cerca de 50% mais barata do que no Brasil.
PROPINA INSTITUCIONALIZADA
“Se temos reclamado da corrupção no Brasil, ir ao Paraguai nos dá uma sensação diferente”, salienta Raupp. Ele explica que o país vizinho tem a propina quase que institucionalizada e ela acontece com o conhecimento e consentimento de todos. “Aqui a bandidagem fica à espreita, aguardando o momento de se aproveitar do dinheiro público. Embora os desvios sempre sejam negativos, ao menos lá, trata-se de algo mais aberto e claro e permite incluir esta ‘taxa’ nos planejamentos de custos”, ressalta.
Raupp conta que para os custos de importação e exportação, por exemplo, no Paraguai há um valor de propina “oficial” para os agentes da aduana. “E caso o protocolo não seja atendido, o processo fica parado por longo tempo. Por isso, todos sabem, todos pagam e os processos continuam com a institucionalização dos pagamentos extras. É a típica adequação do sistema”, afirma. “O refresco é que, no caso de Santa Catarina, contamos com a seriedade dos nossos agentes aduaneiros que certamente tratarão os processos com mais objetividade”.
OPORTUNIDADES
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mais de 90 empresas brasileiras já cruzaram a fronteira, entre elas, gigantes como a Estrela e o Grupo Guararapes Riachuelo. SC também conta com representantes por lá: Tigre, Lunelli e Buddemeyer são algumas delas. “O importante para o empresário que tem a intenção de se instalar no Paraguai é o planejamento com especialização”, alerta Raupp.
Para ele, a logística é complexa, porém os resultados têm sido até 35% melhores se comparados com a produção feita aqui. “É claro que a empresa interessada precisa encontrar a melhor alternativa para o negócio. Todos os benefícios tributários e culturais trazem vantagens mas cobram uma contrapartida e, para evitar surpresas futuras, a análise minuciosa com a ajuda de especialistas é fundamental. O mercado cobra um preço alto, mas também premia os empresários com visão diferenciada”.