Os Riscos dos Investimentos Chineses
Como antecipamos, a presidente Dilma recebeu ontem o primeiro ministro da China para tratar de 35 acordos de investimentos chineses aqui no Brasil. As intenções foram apresentadas e os projetos ficaram um pouco mais claros. Em alguns casos, a clareza foi tanta, que iluminou uma tremenda desorganização do governo, além de ratificar a preocupação sobre a qual falamos ontem.
No caso da ferrovia que liga o litoral brasileiro ao litoral peruano, por exemplo, o governo já anunciou o fundo de investimento sem, sequer, tratar dos aspectos ambientais (afinal, a ferrovia passará no meio da Amazônia), dos aspectos legais (grande parte demandará licitações) e dos aspectos comerciais (o Peru deve solicitar que os trens voltem com algum produto peruano para o Brasil).
Os outros projetos, dos 35 anunciados ontem, abrangem diversas áreas e diferentes empresas como a Petrobrás, Vale, a Vivo e até a Azul Companhias Aéreas. No escopo detalhado, vimos que o risco é ainda maior e o exemplo está logo aqui ao lado na Argentina. No ano passado, acordos parecidos deram participações importantes de empresas locais e benefícios aos chineses como cidadãos argentinos, criando uma dependência de um lado e um sentimento de estarem em casa do outro. É o caso de pegar o dinheiro emprestado da sogra como falamos ontem.
Além disso, mais uma vez, vemos o governo comemorando o gol sem cobrar o pênalti. Exemplos recentes mostram que, em 2011, a presidente Dilma anunciou um investimento de USD12 bilhões da empresa chinesa Foxconn e que ainda não saiu. No ano passado, também foram anunciadas a suspensão do embargo à carne brasileira e a compra de 60 aviões da Embraer que também ainda não foram efetivadas. A preocupação aqui também é, claro, com relação às concessões em excesso que podem ser dadas para viabilizar os acordos.
Claro que o desenvolvimento é fundamental para favorecer as empresas brasileiras na competitividade global. Entretanto, o planejamento é ainda mais importante para que essas necessidades não virem outras necessidades maiores no futuro. Como dizia Abraham Lincoln, “se eu tiver 10 horas para cortar uma árvore, passarei 6 delas afiando o meu machado”. Por aqui, o machado sem fio continua fazendo o maior barulho.
Por ora era isso! Na Zdrowie!
Marcelo Raupp
marcelo.raupp@unq.com.br