Entrevista com Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro: “O país não pode depender somente do câmbio para exportar”.
Entrevista com Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro: “O país não pode depender somente do câmbio para exportar”.
Em entrevista para a Agência Brasil, durante o 28º Fórum Nacional promovido pelo Instituto de Altos Estudos (Inae) na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, traz relevante opinião sobre o segmento:
O Mundo dos Negócios: Por que, em sua opinião, cada vez menos o setor de Comércio Exterior deve depender das oscilações do câmbio?
José Augusto de Castro: O país não pode depender somente de câmbio para exportar. Ocâmbio é importante, mas nós, exportadores, não temos nenhum controle sobre ele. Quando o país depende do câmbio, quem sai fortalecido é o importador, que quer que uma desvalorização cambial seja transferida de forma imediata para o preço.
MN – Mas como resolver essa forte dependência?
JAC – Existem custos internos que têm de ser resolvidos, incluindo custos burocráticos, tributários, de infraestrutura, logística e financeiros. Esses custos, nós temos que atacar. Não podemos depender apenas de câmbio para exportar, mas de redução de custos.
MN – E como a nova administração federal pode contribuir para esta diminuição de custos?
JAC – Tem de ser resolvido por meio de reformas. A reforma tributária, por exemplo, visa a reduzir o custo tributário, que onera as exportações brasileiras. Quando nós exportamos, indiretamente estamos exportando tributos, agregados ao produto. Deve haver investimento pesado em logística. A logística existente no Brasil hoje é deficiente e onerosa, o que faz com que quase 50% dos manufaturados brasileiros tenham como destino países da América do Sul. Um pouco vai para os Estados Unidos e o mundo é o resto. O país precisa ainda reduzir os custos financeiros e burocráticos, além dos trabalhistas. A nossa legislação trabalhista tem 70 anos e precisa ser modernizada.
MN – De que forma esses custos burocráticos e financeiros prejudicam o país?
JAC – As reformas estão “superatrasadas”. Cada vez que se atrasam as reformas, o nosso problema se agrava mais. Enquanto as reformas não são feitas, os exportadores continuam torcendo para que as commodities [produtos primários com cotação internacional] mantenham um patamar mais elevado e brigando para aumentar a exportação de manufaturados de maior valor agregado. Já caímos muito. Agora, temos que recuperar o que perdemos no passado.
O autor
Marcelo Raupp
Negócios na ÁsiaSócio-diretor da UNQ Import Export. Administrador de empresas formado pela ESAG-UDESC e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais (FGV, Brasil). Especialista em International Business (Holmes Institute, Austrália). Experiência de mais de 15 anos na área de comércio exterior. Amplo conhecimento dos potenciais da indústria chinesa e da cultura do país asiático, com mais de dez visitas de longos períodos à Asia para a realização de negócios internacionais nos mais diversos setores. Consultor empresarial em negócios internacionais desde 2009 e grande incentivador das oportunidades internacionais no país.