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As consequências da tensão comercial entre EUA e China para o Brasil

No início do mês de março, a fim de salvaguardar a indústria local, o presidente americano sobretaxou a importação de aço e alumínio e alguns países sentiram mais essa tensão comercial entre EUA e China, principalmente aqueles que anteviram prejuízos importantes na sua economia.

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A China retaliou a decisão americana anunciando uma lista de 128 produtos americanos sobretaxados e claro, a resposta americana veio com mais uma lista de 1300 produtos importados, mas agora exclusivamente de origem chinesa. No dia seguinte, o país asiático apresentou mais uma lista de intenções de barreiras de 106 produtos vindos do país americano, incluindo a soja, criando uma tensão comercial que pode gerar diversas consequências no mundo, principalmente, no Brasil.

E quais podem ser as consequências?

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Entenda como o feriado chinês pode impactar as importações

Diferentemente do Brasil, que comemora a virada de ano no final de dezembro, a China comemora o ano novo em fevereiro, conforme as fases da lua e as posições do sol. O feriado chinês decorre dessa comemoração relativa à virada de ano e pode afetar de diversas formas o suprimento dos importadores ao redor do mundo, dentre eles, os brasileiros.

Oficialmente, o Governo Chinês determina uma semana de feriado, mas culturalmente esse tempo pode ser estendido para um mês. Isso acontece porque a maioria dos trabalhadores vem do interior do país e usufruem desse momento para voltar para casa e passar um tempo com a família.

Com isso, todas fábricas param em Fevereiro e não sabem ao certo o dia do retorno da operação, já que os funcionários vão voltando aos poucos. Essa parada de produção demanda uma adaptação das empresas que dependem do produto chinês e alguns cuidados devem ser tomados.

  1. 1. Programação de compra antecipada: Com a parada de um mês em fevereiro, é preciso programar bem as importações, já que muitas empresas irão antecipar seus pedidos e o lead time de produção irá aumentar.
  2. 2. Planejamento e controle de estoque: É um período que sucede os feriados brasileiros e a redução da demanda temporária pode mascarar as necessidades de estoque.
  3. 3. Dificuldade logística: Os transportes rodoviários aos terminais e portos ficam difíceis de contratação e os armazéns têm dificuldade na estufagem dos contêineres.
  4. 4. Aumento no valor do frete internacional: pelo aumento da demanda, o valor do frete internacional aumenta. Isso deve estar no planejamento orçamentário.
  5. 5. Descompromisso do Chinês na iminência do feriado: quando começa a chegar o momento do feriado, muitos chineses ficam ansiosos e podem não tratar o embarque da carga com a mesma importância que o importador.

Na minha última ida à China em Janeiro, conversei com uma chinesa sobre a expectativa do feriado.

Alisa Li tem 28 anos, é assistente comercial e mora na própria fábrica. Visivelmente emocionada, ela retratava a saudade do filho de 2 anos e a ansiedade de vê-lo. A única vez no ano que pode fazer isso é no feriado chinês. Certo ou errado? Apenas cultural.

A PROIBIÇÃO DO GOOGLE E REDES SOCIAIS NA CHINA

Com a praticidade e a facilidade de acesso às soluções na internet, nem percebemos tanto a importância que elas têm no dia a dia. Hoje, não existem praticamente mapas impressos para encontrar um endereço. As cartas já se tornaram prática apenas daqueles saudosos, bem como, os cartões postais. As notícias e lembranças de uma viagem chegam de forma instantânea pelo Whatsapp. A comunicação, seja pessoal ou profissional, não para com as disponibilidades de e-mails. Além disso, as redes sociais propiciam outros tipos de interação para quem gosta do contato. Agora, já imaginou se tudo isso não funcionasse? Ficar sem as funcionalidades do Google, não apenas o sistema de buscas, mas também o email (gmail) e o gps (maps)? Sem a comunicação momentânea e diversificada das redes sociais? É isso que acontece na China, já que o Governo acaba de proibir também o uso do Whatsapp, que se junta a Google, Facebook, Twitter e todos as ferramentas que não se adequam às exigências do país asiático.

O Motivo

Até o fim da dinastia de Mao Tse Tung, nada entrava ou saia da China, fossem cidadãos, produtos ou informações. O acesso era extremamente rigoroso e o Governo autoritário pintava a China como paraíso e o resto do mundo como sujo e desnecessário à população. Continue lendo

OS CUIDADOS AO VISITAR A FEIRA DE CANTÃO (CANTON FAIR) NA CHINA

Pelo tamanho e pela abrangência, a Feira de Cantão é considerada a maior feira de exposição do mundo. Organizada por uma empresa com participação governamental, a feira é dividida em três períodos, as chamadas fases, de cinco dias cada. São mais de 10 pavilhões e 1 milhão de metros quadrados para poder atender todas as variedades de produtos com seus mais de 60 mil expositores. Com isso, não é difícil se encantar e criar muita expectativa entorno do evento. Mas, afinal, vale a pena visitar a Feira de Cantão? Continue lendo

POR QUE OS PRODUTOS CHINESES SÃO MAIS BARATOS?

Certamente, todos já se questionaram um dia sobre os preços das mercadorias produzidas na China. Afinal, mesmo com o frete internacional e a tributação, muitas vezes encontramos custos melhores do que os preços pagos aqui no Brasil. E a primeira tendência é justificar os baixos custos em uma suposta mão de obra escrava no país asiático. A verdade é que, embora as condições de trabalho sejam conquistas recentes, o operário chinês ganha proporcionalmente parecido ao que operário brasileiro recebe. Ou seja, não existe a exploração de trabalho que tanto se fala. Para desmistificar o tema, aponto três aspectos importantes na apropriação de um melhor custo na China.

Disciplina de um Povo Trabalhador

Os chineses são muito disciplinados e trabalhadores. A história os formou assim. O trabalho forçado do socialismo de Mao e a pobreza generalizada moldaram os chineses para o trabalho. A abertura do mercado para o capitalismo mostrou aos chineses que o mesmo trabalho poderia gerar melhores condições de vida. Hoje, não é raro ver os chineses trabalhando 10, 12 ou 16 horas por dia. Não pela exploração de mão-de-obra, como argumentamos por aqui. Mas sim pelas possibilidades que eles enxergam a partir da dedicação às atividades profissionais. Eles se sentem bem trabalhando nesta intensidade. A disciplina da operação favorece a escala, o que reduz os custos de produção. A disciplina comercial faz dos chineses os melhores anfitriões e a insistência na venda, às vezes, inconveniente (quem já forneceu o número de whatsapp para um chinês sabe bem), produz resultados também favoráveis ao volume. É natural que essa disciplina de trabalho possibilite menores custos e, consequentemente, melhores preços.

Capacidade Logística e Tecnologia 

Imagine o Brasil usufruindo de toda condição natural aquaviária, fazendo o transporte através de rios, lagos e mares e disponibilizando melhor infraestrutura nos portos para agilidade nas operações. Ou mesmo, utilizando melhor o transporte ferroviário, desafogando as rodovias e oferecendo opções ao empresário para reduzir o custo logístico. Essa é a realidade na China, o que permite uma eficiência logística muito mais adequada e, consequentemente, menores custos. Além disso, os investimentos em tecnologia e desenvolvimento são bastante intensos. A contrapartida é o aumento da capacidade de suprimento e melhores condições para redução de custos.

Moeda Desvalorizada 

A questão cambial é também um importante fator de preço para o produto chinês. Hoje, o RENMINBI IUAN, moeda chinesa, vale quase metade do que o REAL. Ou seja, em termos gerais, se o custo de uma porta é $CNY100, quando transformado para a moeda brasileira ficaria em R$50. E esta é a mesma ideia para a conversão em dólar, a moeda usada habitualmente nas transações internacionais. Isso permite que proporcionalmente, através da paridade monetária, o custo do produto chinês seja menor também. É, por isso, que o Governo Chinês atua diretamente para manter o câmbio desvalorizado, estimulando a exportação. Claro que para importação, o custo fica mais alto. Entretanto, ao importar produtos primários e exportar produtos de maior valor agregado, o Governo mantém a balança comercial favorável ao país.

Resultados de uma oportunidade bem aproveitada 

Indubitavelmente, a China possui diferentes condições para que os seus produtos sejam melhores em preços e, muitas vezes, em qualidade. O livre mercado permite que os produtos estejam acessíveis em qualquer lugar do mundo e o brasileiro pode facilmente comprar do outro lado do mundo. A culpa da perda de um negócio não será do comprador e, muito menos, do fornecedor estrangeiro. Ela é simplesmente da empresa que não conseguiu oferecer algo melhor. Por isso, é preciso buscar capacitação e encontrar nos bons exemplos, e nos especialistas, vantagens competitivas para garantir a melhor opção de compra.

 

Marcelo Raupp

Marcelo Raupp é empresário e consultor em negócios internacionais.
marcelo.raupp@unq.com.br