A eleição de Trump e os efeitos para a economia do sul
Matéria Publicada no jornal A Tribuna, 10/11/2016, Criciúma-SC.
Tão logo foi oficializada a vitória do bilionário e candidato republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, mercados mundo afora reagiram imediatamente com aumento da volatilidade e queda nos preços da maioria dos ativos. Depois, as perdas no mercado de câmbio foram amenizadas pelo discurso moderado de Trump após o resultado.
Para o sul de Santa Catarina, as consequências do principal fato da política internacional ainda são desconhecidos e, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, não deve haver impactos imediatos.
A principal preocupação, de acordo com eles, é com o discurso protecionista adotado por Trump durante a campanha, o que dá a entender que pode haver barreiras às importações no país, embora o magnata tenha atacado especialmente México e China. “De começo não creio que haja algum prejuízo. O que existe agora é insegurança do mercado por causa da possibilidade de , no futuro, algumas oportunidades serem fechadas. As pessoas devem segurar um pouco os investimentos até entender exatamente que caminho Trump vai seguir, projeta o empresário e consultor em negócios internacionais, Marcelo Raupp. Os Estados Unidos, segundo ele, são vistos como um potencial mercado consumidor para a indústria em diversos segmentos. “As nossas compras [dos Estados Unidos] não são em grande volume, mas exportamos muito de cerâmica, madeira e descartáveis plásticos. A curto prazo não deve haver prejuízo, mas é motivo para as empresas ficarem atentas”, acrescenta Raupp.
Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Criciúma havia exportado cerca de R$ 7,5 milhões para os Estados Unidos até outubro deste ano, o que representa cerca de 14% de tudo o que é exportado pela cidade. Somados todos os 27 municípios das regiões de Criciúma e Araranguá, o volume exportado ao país norte-americano chega a quase R$ 63 milhões, o que representa 17,3% do total.
O economista Ênio Coan acredita que, mesmo que Donald Trump queira, os Estados Unidos não devem impor barreiras significativas aos produtos exportados pelo sul de Santa Catarina. “A economia norte-americana é muito privada, não é possível interferir muito por via de políticas públicas. No caso da indústria cerâmica, os Estados Unidos não têm competência para produzir lá. Vão continuar dependendo do Brasil, da China e da Itália”, prevê o economista.
Para Ludmilla Culpi, professora de Relações Internacionais e mestre em Ciência Política, a vitória de Trump representa “um grande retrocesso”na política internacional. “Por mais que a Hilary Clinton fosse mais belicista, tivesse mais tendência a recorrer a guerras, ela iria manter o alinhamento comercial, as relações com o mundo. Trump representa a incerteza. Não se sabe o que ele vai fazer”, resume Ludmilla.